terça-feira, 1 de maio de 2018

Circuito de controle manual do sistema fiat adventure locker: palio, strada, doblô.

Olá, se chegou até aqui provavelmente está interessado em saber como obter melhor desempenho do bloqueio do diferencial dos Fiat adventure locker.
Tenho um palio adventure locker 2011, com o qual já fiz algumas aventuras off road, como esta: http://desmistificandoojalapao2013.blogspot.com.br/
No entanto, a Fiat colocou um sistema de segurança no locker, que o desliga automaticamente ao chegar a 20 km/h. Isso impede que o diferencial travado provoque algum acidente mais grave, mas também impede que você consiga obter do equipamento o que ele é capaz de oferecer. Primeiro é necessário atolar, para depois tentar sair. Qualquer um que já passou por terrenos difíceis sabe que não é assim que funciona. Uma vez parado, muito mais difícil sair.
Várias revistas e blogs especializados reclamaram disto, avisando que o locker desse jeito tem pouca serventia. Mas não houve modificação. Em uma estrada com atoleiros, ou uma subida difícil com pedras soltas, é mais vantajoso pegar um pouco mais de velocidade, uns 30 e poucos km/h, mesmo sem o locker, do que ficar abaixo de 20 com o locker ligado.
Assim, restou a mim tentar modificar o sistema.

O sistema original, como funciona, e os desafios encontrados:

Ele é composto pelo atuador eletromagnético (um simples solenóide que fica no diferencial, dentro da carcaça do câmbio), e pela central de comando ELD. Algumas versões detectam a velocidade por um sensor na roda traseira esquerda, outros recebem o sinal de velocidade da central do ABS. Descrição mais detalhada aqui.
Inicialmente minha intenção era enganar a central alterando o sensor de velocidade, mas como vi que funciona com o ABS, desisti. Parti para um circuito de acionamento manual.
Procurei algumas oficinas de câmbio e auto elétricas, sem sucesso, ninguém quis fazer o serviço, nem sabiam como. Disseram que o atuador não poderia ser ligado diretamente em 12V, que iria queimar.
Além disso, é um sistema que envolve segurança: eu não poderia simplesmente ligar o locker numa chave qualquer que ficasse acessível e que pudesse ser acionada involuntariamente: isso provocaria um acidente. Tanto que, para acionar o locker, precisa estar parado e com o freio acionado! E por outro lado, esta chave não poderia ficar muito escondida, pois eu teria necessidade de ligar e desligar o locker nos percursos.
O primeiro indício de que não seria tão fácil, é que o solenóide tem uma resistência elétrica relativamente baixa, de 3,4 ohms, que ligando em 12V direto (14V com o motor ligado), iria produzir grande aquecimento , quase 60W de potência, e possível queima, pois é uma peça pequena com reduzida capacidade de dissipar o calor gerado. Quando acionado pela central, a tensão nos terminais fica por volta de 10V. Ou seja, eu deveria dar um jeito de limitar a corrente.
Outra questão é o autodiagnóstico: ao ligar a chave, a central verifica se está tudo OK, e isso inclui que passe corrente entre os terminais do atuador, e que nenhum deles esteja aterrado. Qualquer ligação direta faz o sistema bipar e alarmar avaria no ELD.
E a saída da central para o atuador, apesar de serem apenas 2 fios, não é simples: Nem o positivo é ligado ao positivo da bateria, nem o negativo é ligado à massa. Ambos "flutuam". Ligar qualquer um deles ao positivo ou negativo queimaria a central.
Então são 4 desafios para o acionamento manual:
- Combinar segurança com facilidade de acionamento e desacionamento;
- Limitar a corrente;
- Enganar o autodiagnóstico;
- A ligação direta não provocar alarmes de avaria nem danificar a central.

O que seria feito:

Minha ideia foi criar um circuito com relés, que deixasse o locker normalmente ligado na central, e que aguardasse o locker ser acionado. Assim que fosse acionado, ele chaveia tanto o positivo quanto o negativo do atuador para o controle manual, independentemente da central desativar a 20 km/h ou não.
Uma vez ligado, só desliga no interruptor manual. Isso resolveria os problemas da segurança, facilidade de acionamento, enganar o autodiagnóstico e danos na central.

O circuito instalado:

Após algum tempo de projeto, cheguei ao circuito:


O material usado foi simples e barato:
- 2 relés 12V de 5 pinos
- 5 diodos 1N4001
- Um interruptor de acionamento liga/desliga
- Uma lâmpada de lanterna/freio (21+5 W), usada como resistor de limitação de corrente.
- Fios, soquete, fita isolante, e uma caixinha de alumínio para alojar o conjunto.

Como funciona:

Com o interruptor desligado o locker fica ligado direto na central. O autodiagnóstico não reporta erro, e o funcionamento é exatamente como no original.
Com o interruptor ligado, idem. Apenas acioná-lo de forma involuntária não liga o locker.
O locker deverá ser acionado da forma "original", pelo botão, parado e com freio acionado. Então, o circuito entra em funcionamento e toma o controle:
- A corrente fornecida pela central passa pelos 4 diodos (os das laterais, no diagrama) e aciona também os dois relés.
- Com os relés acionados, a central fica isolada, e os 12V da bateria acionam o locker, e também mantém acionados os próprios relés. É uma espécie de "memória"... Uma vez acionado, só desativa desligando o interruptor.
- O quinto diodo, ligando os terminais do locker, é apenas um "free wheel diode", para evitar faiscamento nos relés, e proteção da central, quando do desligamento. Não interfere no funcionamento.

A montagem:

Foi montado desta forma, e o conjunto embutido em uma caixinha de alumínio, com diversos furos para dissipar o calor da lâmpada, escondida dentro do painel. O positivo e negativo foram ligados nos terminais do acendedor de cigarro (só aciona com a chave ligada), e para o interruptor foi feito um pequeno furo na console próxima ao botão do freio de mão. Discreto e fácil de acionar mesmo nos solavancos das trilhas.







Quanto aos outros 4 fios (locker e central), o chicote formado foi puxado para debaixo do capô e ligado nos 2 terminais originais onde o atuador do locker é ligado no chicote que vem da central. O conector fêmea (verde/amarelo) é o que vem da central, positivo à esquerda, na foto. O macho (preto, abaixo) vai pro atuador do locker.



Não foi cortado nenhum fio: arranjei um conector fêmea (verde/amarelo) igual ao original, em ferro velho, este foi utilizado nos fios que vêm do circuito, para acionar o atuador do locker. Basta conectá-lo ao conector macho (preto) que vai ao atuador do locker. É um conector bastante utilizado.
Já no conector fêmea original, que vem da central, foram inseridos os fios que vão para o circuito diretamente, e tudo envolvido com fita de autofusão e amarrado. Posteriormente vou encomendar um conector macho idêntico (Delphi Superseal 2 vias) para desfazer essa gambiarra.

Por fim, posso dizer que foi aprovado no teste prático ;-)

OBS:

Este artigo apenas tem a intenção de descrever como foi feito. Qualquer tentativa de reproduzir esta adaptação será feito por sua conta, levando em consideração os riscos que oferece:
- Queimar a central;
- Queimar o atuador do locker;
- Causar algum acidente por acionamento indevido do locker.